É muito ruim ver tantas opiniões negativas, não construtivas, sobre o que somos. Parece que já acordamos tendo que remar no sentido contrário da correnteza, ou nos vestirmos com escudos para ir à luta. Tenho medo de um dia ter que me armar com algo que não seja conhecimento. Sou uma prova que pensamentos mudam, por isso ainda tenho esperança, mas tem horas que o rosnado é tão grande que nos afastamos da calçada. No antigo referendo sobre armas eu acreditei demais na liberdade de alguém poder se armar. Hoje sonho mais com uma liberdade em que ninguém precise se armar. Dá vontade de dizer para separarmos tudo. Vamos fazer que nem a Coréia. Quem pensa assim vem pra cá, quem pensa assado vai pra lá. Junta logo com o movimento separatista do sul e pronto.
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Desabafo
A puta. Sempre foi assim. Aquela que não presta. A estranha. Não serve para andar. Não serve para namorar. Fica com ela, ela é fácil, já deu para a escola toda. Mesmo que eu só tenha perdido a virgindade anos depois. Só fiquei com ela na festa porquê estava bêbado. Como determinadas lembranças da nossa adolescência doem. Dói ter escutado tudo isso e não saber o que fazer. Eu fingia não ligar. Achava que se não me importasse parariam. Nunca pararam. Até hoje, anos depois, ecoam em minha cabeça. Sempre fui solitária. Lembro da minha infância. Sempre me senti fora de todos o grupos. Eu nunca era eles. Aos 12 tinha que querer se interessar por rapazes, era coisa de criança brincar. E eu corria pelo prédio, esconde-esconde, papai-ajuda, futebol. Mal dei meu primeiro beijo, enquanto andava de patins, no prédio, com um menino da redondenza! Tinha que me vestir melhor. Tinha que me arrumar mais. E eu queria jogar futebol e rpg. A estranha. Filme adolescente norte americano. Ir pra escola me dava febre. Eu odiava estar ali. Odiava a maneira como riam e jogavam bolinha de papel e cuspe no meu cabelo. Odiava tentar fazer amigos e as pessoas não quererem se aproximar de mim. Tinha dias que eu ficava olhando o colégio da garagem do prédio em que morava pensando que não seria difícil jogar uma bomba lá. Mas tinham uns poucos amigos que eu gostava, em grande parte excluídos que nem eu. E eu nunca fui corajosa mesmo para isso. Mudei de escola. Como mudei várias vezes por vários motivos. Um dia, passando na rua, revi ex colegas, me aproximei feliz para falar com elas e todas, todas, me ignoraram, sairam. Como eu me senti triste naquela hora. E me sinto agora ao lembrar. Há tempos ensaio escrever sobre mim e não consigo. Talvez colocar num papel ajude a aliviar a mente. Cresci na defensiva. Estudei em nove escolas diferentes e não era de cultivar grandes amizades. É estranho se sentir estranha. É estranho carregar culpas que não haviam. Cresci querendo pertencer aos grupos que não pertencia. Ia feliz onde me chamassem. E às vezes esses chamados não eram sobre amizades. Era sobre a fama de fácil. Eu acho que eu era a virgem mais rodada daquela cidade! E agora até quase consigo rir disso. Quando fazia cursinho recebi, no dia dos namorados, um pênis de chocolate, anonimamente, com um bilhetinho pouco afetuoso. Fingi não ligar. Já fingia não ligar há muito tempo. Irônico que esse foi o único presente de dia dos namorados em toda a minha vida. Um dia desisti de só levar a fama e nunca deitar na cama. Resolvi dar mesmo. Dar pra quem eu quisesse. Foda-se, foda-me. Festinhas. Reggaes. Raves. Numa noite despertei com um colega em cima de mim. Ele transava comigo enquanto estava apagada. A que não presta. A vagabunda. Sou isso e não sou. Sou um pouco de tudo. De sair ficando, de namoros, de ficar só. Alterno. Chego ao meu equilíbrio. Dia desses, na praia, vi um rapaz solitário. Achei que ele estava triste. Quantas vezes eu sou um pouco daquele rapaz. Aprendi a ser só. Estranha. Nem tão puta quanto dizem. Nem tão santa quanto querem.
terça-feira, 21 de agosto de 2018
Meu avesso
Outro dia me disseram
"Queria ser assim como você."
E falou algo sobre confiança em si
Ou algo nesse sentido
E na hora pensei que eu não era aquilo
Talvez minha imagem assim pareça
Talvez eu saiba fingir
Mas sou insegura
Confusa
Medrosa
Queria eu ser confiante, forte!
Queria eu ter coragem para desbravar o mundo!
Sair
Do mal
De mim
Do meu próprio avesso
domingo, 12 de agosto de 2018
Redes socias
Redes sociais são minhas múltiplas personas nessa sociedade líquida. Ou a maneira mais aceitável de poder ter algumas diferentes personalidades. Talvez minha essência seja confusa, precisando de canais que extravazem os pormenores sentidos. Algo narciso, estético; algo que quero muito dizer e não consigo ou não posso; diários; cadernos... Quanto de mim tem em cada um eu sei: todos são meu mais puro eu. O problema, ou a sábia decisão, é quanto de mim não tem em cada unidade do múltiplo.
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
Solidão
Às vezes a solidão é algo bom
Às vezes não
Às vezes é um grito de socorro
Silencioso
Às vezes é inadequação
Olhar
Meu olhar percorre-te
Num chamar para bailar
Dois pra lá
Dois pra cá
Meu olhar acompanha-te
Mas do que adianta?
Como tudo idealizado és distante
E esse meu olhar fica mufino
Perdido em devaneios
Quem sabe nossos olhares se encontrem
Como canta a bossa nova
Ou apenas torne os meus assim
Num entendimento que és intransponível
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
Me olha
Me olhas
Susurro lentamente
Me olhas
Mas os olhares desviam
Não me procuram
Tento, mentalizo, desejo
Mas mesmo assim foges de mim
Pra quê insistir em algo que claramente não há?
Pergunto a mim mesma
Só pela sofreguidão do não correspondido?
Ou pela beleza do algo inacessível?
Me olhas
Quem sabe um dia nossos olhares possam se cruzar
Quem sabe um dia tu venhas, enfim, me olhar